sexta-feira , 18 abril 2025
    Internacional

    A direita vai bem, fora as brigas

    a-direita-vai-bem,-fora-as-brigas
    Nigel Farage Addresses Local Crowd In Cheshire
    Nigel Farage (Christopher Furlong/Getty Images)

    Continua após publicidade

    Todo mundo já ouviu alguma versão da frase creditada a Georges Clemenceau, o primeiro-ministro francês durante a Primeira Guerra Mundial, sobre a adesão do filho ao Partido Comunista: “Se meu filho de 22 anos não se tornasse comunista, eu o deserdaria. Se continuar comunista aos 30, é isso que farei”. Outras variantes falam sobre não ter coração, na juventude, se não se convencer sobre as virtudes do socialismo, e não ter cabeça, na maturidade, se não entender seus defeitos. Alguns fenômenos da política contemporânea contradizem esse conceito. Em vários países europeus, como França e Alemanha, sem falar nos Estados Unidos, quantidades importantes de jovens estão aderindo à direita. Direita pura e dura, sem os amortecedores do conservadorismo convencional.

    Na Grã-Bretanha, os jovens do sexo masculino entre 18 e 24 anos inclinados à direita preferem o Reforma, criação do folclórico Nigel Farage, ao tradicional Partido Conservador, o mais antigo do mundo. Diz o índice TikTok: Farage tem 1,2 milhão seguidores, ante 89 900 dos conservadores. Disse ao jornal The Telegraph um jovem militante do Reforma sobre os jovens que seguem a mesma linha: “Tanto aqui como nos Estados Unidos, é um pessoal bonito, relacionável, geralmente em boa forma física. São jovens que querem ser bem-sucedidos e cuidar de si mesmos. Existe uma cultura de excelência”. Nos Estados Unidos, o fenômeno da virada do voto masculino jovem foi impressionante. Os mesmos 56% desse eleitorado que votaram em Joe Biden em 2020 preferiram Donald Trump em 2024. Fora os motivos de sempre — economia, imigração —, também pesou uma espécie de fator cool. Ao escapar de punho erguido de uma tentativa de assassinato e posar com cara de macho alfa para a foto do fichamento policial que deveria destruí-lo, Trump deixou de ser um ricão com cabelo esquisito e virou fenômeno cultural.

    “Tudo o que eu sei, aprendi depois dos 30”, dizia o primeiro-ministro francês Georges Clemenceau

    Se não fosse pelo medo paralisante de parecer bolsonarista, uma quantidade relevante de cientistas sociais estaria hoje estudando a ascensão da direita entre o eleitorado jovem, em geral da classe C, no Brasil, um fenômeno tão impressionante que poderia dar mais um mandato ao ex-presidente se ele não estivesse imobilizado por múltiplas amarras. Continuam a reverberar pesquisas que mostram uma face do eleitorado que os acadêmicos, geralmente inclinados à esquerda, não costumam enfrentar com a gana analítica que exigiria ou desprezam sob a designação irônica de “pobres de direita”. Uma delas, feita por encomenda do Senado no ano passado, oferece os seguintes dados: 29% do eleitorado se declara de direita e 15% de esquerda. Ah, o Brasil e seus labirintos, implorando por explicações que mostrem mais do que uma saturação com a ineficiência do Estado e com a “repetição dos mantras de uma esquerda cultural” que já não os representa — essa uma explicação para a explosão do voto jovem em Javier Milei, talvez a expressão mais pura desse fenômeno.

    “Tudo o que eu sei, aprendi depois dos 30”, dizia Clemenceau, que foi da esquerda radical, anticlerical, repressor de grevistas, implacável chefe da guerra e anticomunista arrebatado, entre outras contradições que o colocam na categoria “inclassificável”, compatíveis com sua convicção de que “o homem absurdo é aquele que não muda nunca”.

    Publicado em VEJA de 14 de março de 2025, edição nº 2935

    ECONOMIZE ATÉ 88% OFF

    Digital Consumidor

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas R$ 1,99/mês*

    Revista em Casa + Digital Completo

    Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)

    a partir de R$ 32,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.

    Deixe um comentário

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Artigos Recentes

    Categorias

    Artigos relacionados

    imprensa-peruana-critica-asilo-a-ex-primeira-dama:-‘corruptos-se-protegem’
    Internacional

    Imprensa peruana critica asilo a ex-primeira-dama: ‘Corruptos se protegem’

    Capa do tabloide peruano ‘Trome’ nesta quinta-feira, 17 de abril (./Reprodução) Continua após...

    estados-unidos-ameacam-deixar-acordo-de-paz-entre-russia-e-ucrania
    Internacional

    Estados Unidos ameaçam deixar acordo de paz entre Rússia e Ucrânia

    O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky,...

    retrato-de-menino-palestino-amputado-vence-principal-premio-da-world-press-photo-2025
    Internacional

    Retrato de menino palestino amputado vence principal prêmio da World Press Photo 2025

    Assine: Pague menos de R$ 9 por revista Retrato de Mahmoud Ajjour,...

    video:-imigrante-e-preso-apos-agentes-quebrarem-vidro-de-carro-em-operacao
    Internacional

    Vídeo: Imigrante é preso após agentes quebrarem vidro de carro em operação

    Agentes do ICE quebraram janela de carro para prender um guatemalteco ilegal...