Os juros básicos do Brasil estão fixados hoje em 10,5% ao ano. Definida pelo Banco Central (BC), a taxa Selic serve como referência para bancos e outras instituições financeiras definirem os seus juros, o preço que dão ao dinheiro no retorno de operações como empréstimos ou prestações.
Uma taxa elevada tende a encarecer o crédito, dificultando a realização de operações e travando a movimentação do dinheiro, e por tanto, da economia.
Para economistas ouvidos pela CNN, o atual patamar da Selic é de fato restritivo.
O ciclo de alta
Entre agosto de 2020 e março de 2021, a taxa básica de juros do BC foi mantida em 2%, o patamar mais baixo da história da Selic. Contudo, em um cenário de forte pressão econômica por conta da pandemia, a inflação subiu e a autarquia iniciou um ciclo de aperto que se estenderia até agosto de 2022.
“A razão para o aperto monetário era a preocupação com o aumento da inflação, que refletiu políticas fiscal e monetária expansionistas em resposta ao impacto recessivo da pandemia, bem como choques de oferta em meio à Covid-19”, avalia Carlos Braga, ex-diretor de Política Econômica e Dívida do Banco Mundial.
Os juros chegaram a atingir o patamar de 13,75% ao ano, o mais elevado desde 2016. A taxa só voltaria a cair em agosto de 2023, num ciclo que se encerrou em maio deste ano.
Apesar da queda, a Selic ainda segue acima da chamada taxa de juros neutra – aquela que nem trava e nem movimenta a economia.
Para o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP e ex-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), esse patamar gera “restrição do crescimento econômico, estrangulamento dos devedores, valorização artificial do câmbio e aumento do custo de rolagem da dívida pública”.
Próximos passos da política monetária
Até o começo do ano, a expectativa do mercado apurada pelo BC no boletim Focus apontava que a Selic deveria encerrar o ano em um dígito. Contudo, as apostas se deterioraram, e agora — além de se acreditar que ela não vai voltar a cair neste ano —, parte do mercado espera que ela volte a subir.
Há quem olhe para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), entre os dias 18 e 19 de deste mês, com a expectativa que ela já seja elevada. Mas conforme a apuração mais recente do BC, a mediana do mercado aponta para uma alta de 0,25 ponto percentual na reunião de novembro.
Segundo o Sistema de Expectativas de Mercado da autarquia, a Selic só deve voltar a cair final de 2025, e ser reduzida a um dígito apenas em 2026.
A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a 4,45% em 12 meses encerrados em julho, se aproximando do teto perseguido pelo BC.
A meta da inflação deste ano e os próximos é de 3%, com margem de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, aponta que a variação de preços deve ficar moderada a partir de 2025, com espaço de o BC manter a Selic em patamar mais restritivo até o terceiro trimestre do próximo ano.
“Possivelmente, mais para o final do ano, seja possível pensar em voltar a cortar os juros, pensando em uma inflação convergindo mais ao centro da meta em 2026/2027”, analisa Thaís Zara.
Além da inflação convergindo para a meta de 3%, Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, destaca uma série de fatores que contribuem para a queda dos juros no ano que vem.
Entre os destaques, a potencial valorização do real — em razão de um cenário externo mais benigno com o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos —, e o desaquecimento da atividade doméstica com redução dos gastos do governo federal.
Mas enquanto a perspectiva fiscal for negativa, Braga aponta para o pior cenário. “A menos que o governo restaure a credibilidade de sua política fiscal, o aperto monetário é inevitável”, aponta o ex-diretor do Banco Mundial.
Incertezas
Um dos motivos por trás da taxa de equilíbrio elevada é a dívida historicamente elevada do país.
Além do processo de desinflação recente ter se mostrado mais lento que o esperado, contribuíram para a deterioração das expectativas do mercado a elevação dos gastos públicos e tensões entre o governo e o BC, que levaram os investidores a questionar sobre o futuro da autonomia da autarquia.
No começo do ano, o governo apresentou níveis recordes de receita. Ao mesmo passo, o executivo acelerou seus gastos, o que por sua vez aumentou o déficit primário do setor público.
“Os fatores que mais pesaram foram a ampliação do desvio das expectativas de inflação com relação à meta, o cenário externo adverso – que contribuiu bastante para a desvalorização do real -, a piora da percepção sobre os riscos fiscais e o dinamismo maior do que o esperado da atividade e do mercado de trabalho”, pontua Goldenstein.
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