domingo , 10 novembro 2024
    Saúde

    Dengue: principais dificuldades para prevenção são reveladas por estudo

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    Um novo estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), lançado nesta quinta-feira (24) com apoio da biofarmacêutica Takeda, mostrou que, embora grande parte da população saiba que é preciso “evitar água parada” para prevenir a dengue, investir apenas em estratégias de comunicação focadas nessa mensagem não é suficiente para provocar mudanças significativas no combate às arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos).

    O achado da pesquisa é relevante e preocupante em um cenário em que os casos de dengue crescem no Brasil e no mundo. Em junho de 2024, o país tinha ultrapassado a marca de 6 milhões de casos confirmados da doença, segundo painel de monitoramento do Ministério da Saúde. Esse número representa um aumento significativo em relação a 2023, quando o país teve pouco mais de 1,6 milhão de registros.

    Com as mudanças climáticas, que levam à eventos naturais extremos, como chuvas intensas e enchentes, o risco dos casos de dengue aumentarem ainda mais é real. Diante desse cenário, ressurge a necessidade de reforçar estratégias de prevenção contra arboviroses que, além da dengue, incluem também a zika e a chikungunya.

    “O momento é de maior gravidade e, então, todos os cuidados, as campanhas e a atenção à dengue devem ser intensificadas. A intersetorialidade tem que acontecer; o engajamento comunitário tem que ser ainda maior; também é preciso aumentar a percepção de risco da doença, levantando também as questões climáticas, e aumentar, também, a resiliência dos serviços, das escolas, das unidades básicas de saúde para que possam, no momento de desastres ambientes, responder a isso sem descontinuar seus serviços”, afirma Luciana Phebo, chefe de saúde do Unicef no Brasil, em coletiva de imprensa realizada virtualmente nesta quinta-feira (24).

    A pesquisa, intitulada “Combate à dengue, zika e chikungunya – Estudo comportamental sobre a adesão a práticas de prevenção“, utilizou como quadro teórico o modelo de Determinantes Comportamentais (Behavioural Drivers Model, na sigla em inglês), desenvolvido pelo Unicef para atuar em Mudança Social e de Comportamento (SBC, também na sigla em inglês).

    Esse modelo considera que o comportamento é multideterminado por aspectos psicológicos, sociológicos e ambientais (incluindo as políticas públicas), permitindo uma análise que vai além de explicações que atribuem a responsabilidade pela adoção de comportamentos preventivos a uma decisão do indivíduo, como por falta de conhecimento ou interesse.

    O trabalho contou com uma etapa qualitativa realizada com 24 grupos etnográficos (entrevistas conduzidas na casa das pessoas, com participantes de seu próprio círculo social), em dois municípios de médio porte, selecionados através de dados epidemiológicos. A coleta qualitativa de percepções com populações foi realizada nos municípios de Montes Claros (MG) e Sinop (MT), além de entrevistas com gestores públicos de outras oito cidades das regiões da Amazônia e do Semiárido.

    O que está por trás da dificuldade de adesão à prevenção da dengue?

    Após uma ampla revisão de literatura, seguida por pesquisa de campo e entrevistas, o estudo explica quais os aspectos que motivam ou dificultam a adoção de práticas de prevenção do Aedes aegypti. A pesquisa organiza esses aspectos em três níveis, de acordo com uma metodologia do Unicef para atuar com mudanças sociais e comportamentais: psicológico, sociológico e estrutural.

    Entre os fatores psicológicos relacionados à prevenção do mosquito, o estudo aponta:

    • Histórico de infecção e percepção de risco: quem nunca teve a doença, tende a não acreditar na gravidade. A percepção de risco e as práticas de prevenção podem aumentar em situação de epidemia, mas diminuir em cenários diferentes;
    • Esforço: as práticas preventivas – incluindo limpeza de calhas, caixas d’água e locais de difícil acesso – são vistas como algo difícil, demorado, complexo, para o qual as pessoas não têm tempo ou disponibilidade;
    • Custos financeiros: especialmente em locais mais vulneráveis, gastar recursos para a limpeza de caixa d’água, compra de repelentes, entre outros, pode não ser viável.

    Entre os fatores sociológicos, foram identificados:

    • Organização coletiva: Participar de organizações de bairro está associado a um aumento das práticas de prevenção. Mas, em várias regiões, muitas pessoas não conhecem seus vizinhos, não se veem como parte de um grupo, e não há uma organização coletiva para cuidar do bairro;
    • Influência comunitária: Muitas pessoas se sentem moralmente obrigadas a cumprir práticas de prevenção que acreditam que é esperado delas.

    O estudo levantou, também, fatores estruturais, como:

    • Estrutura urbana: falta de coleta de lixo e a presença de terrenos baldios estimula o descarte inadequado de lixo.
    • Ação dos agentes de endemia: atuação dos agentes está associada à diminuição das arboviroses. Em alguns lugares, no entanto, pode não haver agentes suficientes, ou pode haver obstáculos na relação dos agentes com a comunidade.
    • Confiança no poder público: baixa confiança nos órgãos de governo pode ser uma barreira para que se siga orientações de saúde e prevenção.

    Do ponto de vista dos pesquisadores, cada um desses fatores pode impactar nas atitudes da população para prevenir, ou não, as arboviroses.

    “O senso comum diz que quando alguém tem uma informação sobre o que é bom para si próprio e sua família, adota um comportamento ou hábito. Mas há uma diferença entre o que as pessoas falam que fazem e os hábitos que efetivamente incorporam em suas rotinas diárias. Fazer ou não fazer algo depende de uma enorme confluência de fatores, comportamentos, normas sociais, infraestrutura e acesso a políticas públicas. São esses aspectos que revelamos nesse estudo”, explica Phebo.

    Recomendações para enfrentar desafios na adesão às medidas de prevenção de arboviroses

    A pesquisa também reúne recomendações importantes para enfrentar a dificuldade de adesão às medidas preventivas contra a dengue, zika e chikungunya. Uma delas é associar o controle vetorial a comportamentos vistos como “desejáveis” pela população, como manter a casa limpa ou não jogar o lixo na rua.

    Outra recomendação é aumentar a percepção de risco, especialmente em relação às crianças. O estudo observou que há uma percepção elevada do risco de infecção pelos pais quando relacionada às crianças, por medo de que seus filhos estejam infectados. Essa percepção poderia ser usada de forma mais eficaz em campanhas de comunicação sobre riscos e no envolvimento da comunidade em ações preventivas.

    A redução de custos e esforços associados à adoção de comportamentos preventivos e aumentar os investimentos em infraestrutura também é uma possível solução apontada pelo estudo. Isso inclui o investimento em políticas públicas que diminuam o custo e os esforços de práticas de prevenção que podem ter efeito positivo na redução de arboviroses.

    Além disso, investir em melhorias na infraestrutura e na limpeza urbana pode fortalecer a adesão da população às medidas de prevenção, segundo o estudo.

    Por fim, o trabalho considera importante avaliar estrategicamente como engajar a comunidade e realizar ações comunitárias. É o caso de adotar mais políticas de engajamento comunitário, além de estimular e mediar discussões sobre o tema em comunidades, do ponto de vista do estudo.

    “A pesquisa revela os desafios na adoção de medidas preventivas contra essas doenças e aponta um caminho para superá-los. A adesão às medidas integradas na prevenção à dengue, como o controle do vetor, capacitação dos profissionais de saúde, diagnóstico e manejo clínico adequados, além de ações preventivas eficazes, é urgente e acreditamos que essa iniciativa será fundamental para impulsionar estratégias focadas no combate às arboviroses”, afirma Eduardo Almeida, diretor executivo de Acesso Estratégico e Public Affairs da Takeda Brasil.

    “Sabemos da importância de garantir, para cada menino e menina, o direito de viver em um ambiente livre de doenças que possam afetar não somente sua saúde física, como também impactar na frequência escolar e na rotina de uma criança, como brincar, se alimentar de maneira adequada, entre outras atividades. Esperamos que os achados desse estudo possam contribuir com as políticas públicas e ações de comunicação nacionais e em cada município, com foco em mudanças de comportamento necessárias ao combate ao Aedes”, completa Phebo.

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