Afinal, o que são os fatos? Esta é uma das perguntas levantadas indiretamente por Mark Zuckerberg ao anunciar, entre outras mudanças, que está acabando com o sistema de checagem de fatos que, tanto no Facebook quanto em outras plataformas, revelou ter distorções causadas por simpatias ou antipatias políticas, em lugar do sistema neutro que nos ajudaria a entender, em última análise, o que é verdade e o que é mentira.
Os checadores, figuras míticas nas antigas redações por terem a missão de flagrar os inúmeros erros factuais cometidos pelos jornalistas, mostraram-se “muito tendenciosos politicamente e destruíram mais confiança do que criaram”, analisou Zuckerberg.
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Tem razão. Praticamente os principais sistemas de checagem foram não só contaminados, mas criados para denunciar distorções da direita, não determinar imparcialmente o grau de veracidade das informações.
Zuckerberg foi um caso raro de autocrítica por ter deixado o Facebook ser contaminado por intervenções do governo americano – intervenções mesmo, carentes do FBI sentados em postos fixos dentro do a plataforma -, em questões ligadas à pandemia e, posteriormente, às informações contidas pelo laptop desviado do filho de Joe Biden, Hunter. A quase totalidade dos meios de comunicação e das redes sociais não esclareceu que errou ao comprar a versão oficial de que informações comprometedoras do laptop faziam parte de um plano russo de intervenção na eleição vencida por Joe Biden, em 2020.
Numa indireta ao Brasil, ele disse no novo anúncio, feito pelo Instagram, que “países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que as empresas retirem coisas silenciosamente”.
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UFC NA META
Estará Zuckerberg se aproximando da direita em matéria de liberdade de expressão – um tema vital do qual a esquerda, infelizmente, não só abriu mão como às vezes se coloca na posição de antagonista?
Além das mudanças anunciadas ontem, ele fez contratações de figuras ligadas à corrente conservadora. Uma das surpresas foi o nome de Dana White, um figurão da UFC, para integrar o conselho de administração da Meta. White também é amigo de Donald Trump.
Outro poderoso do mundo big tech em que a esquerda denuncia “perigosos” sinais de aproximação com o trumpismo é Jeff Bezos. O dono da Amazon também tem o jornal Washington Post e não permitiu, na última eleição presidencial, um editorial de apoio a Kamala Harris, com argumentos bastante razoáveis, mas considerados uma heresia direitista.
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Na semana passada, a chargista Ann Teinaes pediu demissão porque não foi permitida uma charge, algo infantil, mostrando chefões das big techs, incluindo Bezos, levando sacos de dinheiro e se curvando diante de uma silhueta de Trump.
NOBRE PROPÓSITO
Estarão esses bilionários em busca de vantagens nos negócios ou apenas vendo que precisam de alianças com a direita trumpista para segurar os excessos de regulamentação das redes, internos e vindos de países europeus e outros?
E quais métodos poderiam, simultaneamente, impedir crimes pavorosos, como o abuso de crianças, e garantir que perfis e informações não estão sendo bloqueados por antipatia política?
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São questões de enorme alcance para as quais não existem respostas fáceis. O nobre propósito de garantir a verdade às vezes tem resultados opostos. E às vezes indica que muitos preferem acreditar em informações distorcidas, quando não simplesmente mentirosas, porque batem com suas simpatias políticas. É o viés de reforço em plena ação.
Às vezes dá saudade dos implacáveis checadores que não facilitavam a vida dos jornalistas e exigiam deles a versão mais parecida com os fatos que conseguissem apresentar.
É claro que Zuckerberg já está sendo acusado de ter virado Elon Musk – e Musk, nas palavras de um de seus biógrafos, Seth Abramson, de ter enlouquecido. Esse é o mundo onde os fatos não têm a menor importância, contanto que se alinhem com suas preferências.
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