Pessoas que foram expostas à fome enquanto ainda estavam no útero de suas mães têm mais do que o dobro de chances de desenvolverem diabetes na idade adulta, em comparação com quem não passou pela escassez de alimentos na gestação. As informações são de um novo estudo publicado na quinta-feira passada (8) na revista científica Science.
As descobertas mostram como a forme durante a gravidez pode ter impactos para a saúde a longo prazo. Estudos anteriores já tinham mostrado que a fome durante a gravidez pode aumentar o risco de uma criança desenvolver diabetes mais tarde na vida.
Porém, esses estudos eram relativamente pequenos, segundo Peter Klimek, cientista de dados especializado em epidemiologia no Supply Chain Intelligence Institute Austria, e coautor de um artigo de perspectiva publicado com o estudo.
Para preencher essa lacuna, os pesquisadores do atual estudo resolveram analisar dados de nascimento de mais de 10 milhões de ucranianos nascidos entre 1930 e 1938. Entre esses anos, aconteceu um grande período de escassez de alimentos que ficou conhecido como Holodomor (também conhecido como “Fome-Terror” ou “Grande Fome”), que resultou em, aproximadamente, quatro milhões de mortes no curto prazo.
Segundo Klimek, esse fato histórico forneceu uma oportunidade para examinar a relação entre a escassez de alimentos durante a gestação e o risco de diabetes.
Risco mais que dobra
Do total de ucranianos analisados pelo estudo, mais de 128 mil pessoas foram diagnosticadas com diabetes tipo 2 durante os primeiros anos do século XX.
Para estimar a gravidade da forme que cada pessoa enfrentou, a equipe analisou o número de mortes em excesso que ocorreram em 23 regiões ucranianas, incluindo 16 que foram afetadas pela escassez de alimentos. A partir disso, os pesquisadores classificaram a gravidade da fome como extrema, muito grave, grave ou sem fome.
A equipe descobriu que as pessoas nascidas no início de 1934, que teriam sido concebidas durante o período de fome, tinham um risco geral maior de desenvolver diabetes tipo 2 quando adultas, em comparação do que aquelas que não foram expostas à fome durante os estágios iniciais de seu desenvolvimento.
Além disso, o estudo mostrou que as pessoas concebidas em regiões que vivenciaram fome extrema, o risco de desenvolver a doença mais que dobrou. Aquelas expostas à fome severa quando ainda estavam no útero tinham cerca de 1,5 vez mais chance de desenvolver diabetes tipo 2 décadas após o nascimento do que aquelas em regiões sem fome.
Os pesquisadores descobriram, ainda, que não houve aumento no risco de diabetes entre aqueles expostos à fome nos estágios finais da gravidez. Segundo os autores, isso sugere que o início da gravidez é o momento mais vulnerável para o bebê à exposição à desnutrição.
Para os cientistas, as descobertas podem estabelecer a base para próximos estudos realizados em animais que ajudem a destrinchar os mecanismos por trás do aumento do risco de diabetes.
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