quarta-feira , 19 março 2025
    Economia

    Governo avalia aumento da mistura de etanol na gasolina; preços podem subir

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    Concluídos testes para alta na mistura do etanol na gasolina; preços podem subir

    Alteração no teor de etanol na gasolina pode elevar os preços dos combustíveis. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

    Os testes de viabilidade do aumento da mistura de etanol na gasolina de 27% para 30% foram encerrados nesta sexta-feira (28). As análises, encomendadas pelo Ministério de Minas e Energia, foram feitas pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), em Santo André (SP). Se aprovada a nova adição, a tendência é de aumento de preços.

    O relatório técnico com os resultados dos testes deve ficar pronto até 13 de março, conforme o Ministério de Minas e Energia (MME). O documento será uma das bases para a decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) sobre a mudança do teor.

    Ainda não há prazo para uma definição. “O objetivo dos testes foi o de verificar se há viabilidade técnica para a utilização da nova proporção da mistura”, disse o ministério em nota enviada à Gazeta do Povo.

    Além da análise técnica, outros fatores serão levados em consideração pelo CNPE antes de tomar uma decisão sobre a mudança do teor do etanol na gasolina:

    • impacto nas emissões de gases de efeito estufa, considerando a produção de etanol adicional;
    • infraestrutura de produção e distribuição;
    • preços para os consumidores;
    • impactos na arrecadação tributária, uma vez que as alíquotas incidentes sobre a gasolina pura e o etanol anidro (usado na mistura) são distintas.

    A proposta de mudança do teor de etanol na gasolina faz parte da Lei do Combustível do Futuro, aprovada em setembro pelo Congresso e sancionada em outubro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    A legislação, que autoriza uma mistura de até 35% de etanol na gasolina, busca incentivar um maior uso de biocombustíveis.

    O que foi avaliado nos testes pedidos pelo MME

    Os testes realizados pelo IMT envolveram análises de pista, emissões de poluentes e partida em temperaturas baixas. Durante os procedimentos, foram avaliados aspectos como aceleração e retomada de velocidade, buscando possíveis falhas nos veículos. Já os testes de partida a frio, feitos em condições próximas a 0°C, analisaram atrasos na ignição e outros potenciais problemas.

    Os testes foram realizados em veículos de diferentes modelos, tecnologias e anos de fabricação. A prioridade foi dada àqueles mais representativos da época em que foram vendidos.

    Segundo Renato Romio, chefe da divisão de motores e veículos do IMT, carros flex não são afetados pela mudança, pois foram projetados para lidar com vários teores de etanol. “Mas muitos modelos a gasolina utilizam tecnologias obsoletas, de uma época em que os teores de etanol variavam entre 18% e 22%.”

    Os testes também incluíram veículos importados. Há mutos países onde a mistura de etanol na gasolina é menor, como 10%. O objetivo foi avaliar se os motores suportam a mudança. “Mesmo projetados para proporções menores, eles possuem certa tolerância à mistura”, ressalta Romio.

    A avaliação também incluiu análises comparativas com veículos usando uma mistura de 27% de etanol na gasolina e uma composição simulada de 32%. A escolha deste tipo se deveu à variação que eventualmente os veículos poderão enfrentar ao serem abastecidos.

    O especialista do IMT explica que o uso da mistura permite redução no consumo de moléculas de origem fóssil, substituídas por outras de origem renovável.

    Ele destaca que a combustão do etanol emite apenas um terço do CO₂ produzido pela gasolina e que parte desse gás é reabsorvida pelo cultivo da cana-de-açúcar, matéria-prima do combustível.

    Nova mistura do etanol na gasolina terá efeito nos preços

    Se confirmada, a mudança na mistura deve afetar o bolso dos motoristas. Estudo da consultoria agro do Itaú BBA, divulgado no fim de janeiro, revelou que a maior presença de etanol na gasolina pode levar a aumentos nos preços dos combustíveis.

    O levantamento indicou uma alta de 0,6% no preço da gasolina comum e de 3,6% no do etanol hidratado nos postos. Isso tornaria o etanol menos competitivo em relação à gasolina. Nas usinas, o etanol anidro – usado na mistura com a gasolina – poderá ter uma alta de 4,3%.

    A consultoria apontou dois fatores determinantes para o aumento de preços:

    • haverá aumento da demanda por etanol anidro e redução na oferta de etanol hidratado para consumo direto; e
    • a política de aumento do teor de etanol na gasolina, no curto prazo, não resultará em um aumento imediato da oferta de etanol disponível no mercado.

    A consultoria prevê crescimento na produção de etanol de milho no Centro-Sul do Brasil, com expansão de 19% devido ao aumento da capacidade instalada. Por outro lado, a produção de etanol de cana deve cair em 10%. As usinas que processam cana passariam a dar mais prioridade à produção de açúcar. Assim, a oferta total de etanol deverá manter-se estável, mas com uma maior dependência da produção do biocombustível originário do milho.

    O aumento do uso de etanol de milho impulsiona a demanda pelos estoques internos do cereal. De acordo com o Itaú BBA, a expectativa para esta safra é de um crescimento de 5% no consumo total do país, enquanto a produção de etanol a partir do cereal deve registrar alta quatro vezes maior.

    Em paralelo, a adição de mais etanol na gasolina reduzirá a necessidade de importação do derivado de petróleo puro. Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), avalia que a a importação líquida de gasolina pura será eliminada a partir de 2030, se confirmadas as projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) de que o teor de etanol chegará a 33%.

    No ano passado, o Brasil importou 2,7 milhões de metros cúbicos de gasolina pura, o que representou 8,8% da demanda nacional. Os principais fornecedores foram Países Baixos, Espanha e Rússia.

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