segunda-feira , 17 março 2025
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    O que é a KK Park, fábrica de fraudes que explorava brasileiros

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    (FILES) Alleged victims of scam centres board a boat to cross the river on the Myanmar-Thai border to be met by Thai Army soldiers as they are repatriated from Kyauk Khet in Myanmar's Myawaddy township on February 12, 2025. More than 260 people, many visibly injured or brusised, were rescued from an illicit scam centre along the Myanmar border this week and handed over to Thailand, following a series of crackdowns on the illegal operations. (Photo by AFP)
    Vítimas de centros de golpes em Mianmar embarcam em um barco para cruzar o rio na fronteira com a Tailândia, após serem resgatadas. 12/02/2025 – (AFP/AFP)

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    Vítimas de tráfico humano no Sudeste Asiático, os brasileiros Luckas Viana dos Santos e Phelipe Ferreira conseguiram fugir do cativeiro em Mianmar no último domingo 9, onde eram obrigados a trabalhar numa fábrica que aplicava golpes financeiros a mando da máfia chinesa. Os paulistanos estavam entre os 260 imigrantes que deixaram as explorações na KK Park, resgatados por forças de segurança e levados para a Tailândia, onde aguardam o processo de repatriação.

    Segundo investigação da emissora alemã DW, a KK Park, uma dessas “fábricas”, trabalhava com um modus operandi de vigilância rigorosa, tortura e até assassinatos. Soldados armados vigiam todas as entradas, e há câmeras de vigilância por toda parte.

    Jovens são atraídos por supostos esquemas de investimento em criptomoedas e chegam a ser recebidos de forma calorosa, com promessas de que serão hospedados em um hotel. Ao invés disso, são transportados de carro do aeroporto até a cidade fronteiriça de Mae Sot, no norte tailandês, onde embarcam pelo rio Moei até o estado de Kayin, região de Mianmar devastada por uma guerra pela independência.

    Lá fica a KK Park, uma central onde milhares são forçados a ações criminosas, enganando internautas mundo afora com fraudes financeiras. Imagens de satélite mostram que o complexo semelhante a um presídio foi construído em 2020 e que, desde então, sua área quadruplicou.

    As relações de poder nebulosas na região de conflito de Kayin, na fronteira birmanesa, proporcionam solo fértil a atividades criminosas. A KK Park é apenas uma de pelo menos dez fábricas de golpes online da área. Suas operações estão se expandindo continuamente do sudeste da Ásia para a África, Europa e América do Norte.

    As Nações Unidas calculam que mais de 100 mil pessoas estão confinadas em diversos centros de fraude online de Mianmar, num regime análogo à escravidão.

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    Resgate de brasileiros

    A operação que resgatou os brasileiros e outras centenas de imigrantes no último final de semana foi viabilizada com a ajuda da ONG internacional “The Exodus Road”, segundo informado por parentes das vítimas à imprensa brasileira.

    Luckas, 31 anos, e Phelipe, 26, foram atraídos por promessas falsas de emprego e terminaram vítimas de tráfico humano. Segundo familiares, eles eram mantidos em cárcere privado no local e foram obrigados a aplicar golpes financeiros por mais de três meses.

    Após negociações com autoridades locais, a dupla conseguiu ser transferida para a Tailândia. De lá, devem ser repatriados ao Brasil.

    Trabalho forçado e golpes

    A investigação da DW descobriu que muitos dos imigrantes trabalhavam mais de 17 horas por dia, sem feriados nem descanso. Eles recebem instruções sobre como praticar os golpes e convencer os “clientes” – como chamam as vítimas – a investirem em criptomoedas, com manuais que descreviam em detalhes como estabelecer confiança e se aproveitar dos pontos fracos dos alvos.

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    Ao invés de depositarem suas economias em investimentos lucrativos, porém, o dinheiro entrava numa conta controlada pelos criminosos. Assim que se alcançava uma determinada soma, as contas eram zeradas. Esse tipo de golpe online é apelidado pig butchering (abate de porcos). Os manuais distribuídos à chegada no centro descreviam em detalhes como estabelecer confiança e se aproveitar dos pontos fracos dos alvos.

    Havia metas semanais de quanto dinheiro deveriam arrecadar ou de “clientes” para entrar em contato. Quem não alcançava essas metas, era punido: ficava sem almoço, era espancado, ou forçado a ficar horas de pé, segundo a DW.

    Máfia chinesa

    Ainda segundo a investigação da DW, os crachás nos uniformes dos guardas levava as insígnias da Força de Guarda de Fronteira, um grupo de ex-rebeldes que deixou de combater a junta militar birmanesa uma década atrás, em troca do controle total sobre seus territórios. Os soldados policiam a KK Park, mas os chefes da operação são chineses.

    O esquema de pagamentos funcionava assim: a trilha de pagamentos de diversas vítimas de fraude leva até as carteiras de criptomoedas usadas pela KK Park para coletar as economias dos defraudados. De lá, o dinheiro é distribuído por outras carteiras que funcionam como contas digitais para armazenar criptos.

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    Uma delas foi aberta por Wang Yi Cheng, um empresário chinês residente na Tailândia. Ele recebeu dezenas de milhares de dólares em criptomoedas de carteiras usadas pelo KK Park, e integra uma rede maior, de empresários chineses no exterior, que inclui um notório chefão da máfia chinesa, Wan Kuok Koi, conhecido como “Broken Tooth”.

    Ex-líder da tríade 14K, depois de passar mais de dez anos na prisão por atividades criminosas em Macau, ele fundou em 2018 a World Hongmen History and Culture Association. Nesse ínterim ela foi submetida a sanções pelos Estados Unidos, devido a seu envolvimento com o crime organizado.

    A Hongmen também promove a ambiciosa “Nova Rota da Seda”, ou Iniciativa do Cinturão e Rota, um projeto de infraestrutura trilionário que visa integrar a China ainda mais à economia global por meio de investimentos em infraestrutura mundo afora. O terreno em que foi construída a KK Park está relacionada à iniciativa: relatórios do governo falavam em projetos de construção em suas proximidades, embora mais tarde Pequim tenha se distanciado, devido às alegações de fraude.

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